Nas previsões intercalares de Verão, hoje divulgadas, o Executivo comunitário reviu em baixa as projecções macroeconómicas, já sombrias, da Primavera para o conjunto da zona euro e da UE, mas mostra-se particularmente mais pessimista relativamente a Portugal, ao agravar a projecção de recessão em três pontos percentuais, apenas parcialmente compensada, em 2021, com um crescimento de 6,0% (neste caso ligeiramente mais optimista que os 5,8% antecipados na Primavera).
Bruxelas espera agora uma contracção em Portugal acima da média da zona euro (-8,7%) e da UE (-8,3%), quando há dois meses estimava que ficasse abaixo, ao antecipar uma queda da economia portuguesa de 6,8%, contra 7,7% no espaço da moeda única e 7,6% no conjunto dos 27 estados-membros.
“Com o confinamento a começar a diminuir em Maio, a actividade económica está lentamente a retomar, mas para muitas empresas, tais como companhias aéreas e hotéis, é expectável que a mesma permaneça bem abaixo dos níveis registados antes da pandemia durante um longo período. O PIB deverá, assim, recuar 9,8% em 2020, antes de recuperar em torno dos 6% em 2021″, aponta a Comissão, que adverte ainda para riscos sobretudo para o lado negativo, “devido ao forte impacto do turismo estrangeiro”, sector “onde as incertezas no médio prazo permanecem significativas”.
As previsões de hoje de Bruxelas estão, basicamente, em linha com as mais recentes divulgadas pelo Banco de Portugal, que estima que a recessão atinja este ano os 9,5%, registando uma recuperação de 5,2% em 2020.
Bruxelas nota que “a actividade económica em Portugal inverteu-se acentuadamente em Março, uma vez que a pandemia de Covid-19 trouxe perturbações significativas, particularmente para a grande indústria hoteleira do país”, o que levou a que, no primeiro trimestre do ano, o PIB caísse 3,8% na comparação em cadeia e 2,3% em termos homólogos, apesar dos dados muito positivos nos primeiros dois meses do ano”.
A Comissão estima que, no segundo trimestre do ano, o desempenho económico se deteriore a um ritmo ainda muito mais acentuado, de cerca de 14% na comparação trimestral em cadeia, “reflectindo contracções dramáticas na maior parte de indicadores económicos”.
“O turismo tem sido o sector mais dramaticamente afectado, com as visitas a colapsarem quase 100% em Abril relativamente a um ano antes”, sublinha.
Por outro lado, o Executivo comunitário aponta que “os efeitos da pandemia nos preços ao consumidor já são visíveis”, indicando que, durante o primeiro semestre de 2020, o Índice Harmonizado de Preços no Consumidor (IHPC) caiu abaixo de zero, reflectindo uma queda significativa nos preços da energia, o que mais do que compensa um aumento dos preços dos alimentos, esperando Bruxelas que a inflação “se mantenha moderada em 2020 e aumente gradualmente em 2021”.
Como nota positiva, a Comissão sublinha que a taxa de desemprego permaneceu globalmente estável, entre os 6,2% e 6,3% em Março e Abril, uma vez que os despedimentos temporários não tiveram um impacto estatístico imediato e os regimes de trabalho a curto prazo implementados pelo Governo também ajudaram a compensar o choque.
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