No sector têxtil, o impacto da crise sanitária traduziu-se numa queda “próxima dos dois dígitos” da produção e das exportações no mês de Março, mas o presidente da Associação Têxtil e Vestuário de Portugal (ATP) está certo de que o pior ainda está para vir em Abril.
“No mês de Abril a quebra vai ser de dois dígitos, mas já com um impacto enorme”, antecipou Mário Jorge Machado em declarações à “Lusa”, avançando que os associados da ATP apontam para um recuo “na ordem dos 40, 50 ou mesmo 60%” do volume de negócios.
“São números com proporções muito grandes, números como nunca vimos nas nossas exportações de um mês para o outro”, admitiu, sustentando que “se uma quebra de 10% já é dramática, uma quebra na ordem dos 50% é algo que, sem as ajudas desenhadas [pelo Governo], seria insuportável para as empresas”.
Segundo a associação, “o sector depara-se com sucessivos adiamentos e cancelamento de encomendas por parte dos clientes, que em alguns casos não chegam a pagar encomendas já recebidas”, o que tem “um profundo impacto ao nível dos recebimentos e das receitas, sobretudo num cenário onde os custos fixos permanecem”.
O desânimo estende-se à indústria do mobiliário, onde dois terços do cluster prevê recorrer ao lay-off’ simplificado, 70% estima perdas de facturação superiores a 50% em Abril e um terço antecipa uma quebra desta ordem no acumulado do ano, segundo um inquérito realizado pela associação sectorial.
De acordo com a Associação Portuguesa das Indústrias de Mobiliário e Afins (APIMA), no final do mês de Março, 44% das empresas do cluster tinham interrompido a laboração e, ao longo do mês de Abril, a percentagem de empresas em regime de lay-off, parcial ou total, deverá atingir os 66%.
O questionário revelou que uma em cada três empresas sofreu perdas superiores a 50% já no mês de Março, em relação ao período homólogo, e em Abril 21% dos inquiridos estima quedas de facturação na ordem dos 25%, enquanto 70% antecipa mesmo uma descida superior a 50%.
Para a totalidade do ano 2020, apenas 4% das empresas estima perdas até 10%, sendo que quase dois terços esperam uma redução de 25% e cerca de 30% calcula uma queda superior a 50% face a 2019.
Para o director executivo da APIMA, Gualter Morgado, as conclusões do inquérito são “preocupantes”: “Historicamente, sabemos que estes sectores são dos mais lentos a assegurarem a retoma, tendo em conta que os bens que produzem não são de primeira necessidade”, sustenta.
Um outro inquérito lançado pela congénere Associação das Indústrias de Madeira e Mobiliário de Portugal (AIMMP) revela que 62,7% das companhias antecipa para Agosto quebras superiores a 20% e 40% da facturação, com os empresários a prever “que a situação vai piorar progressivamente” e a aumentarem o seu pessimismo ao longo dos três períodos temporais traçados (15 de Março, 15 de Maio e 15 de Agosto).
Já no sector automóvel, a indústria portuguesa de componentes para veículos aponta para “quebras abruptas” na actividade de 50% em Março e de 90% em Abril e Maio, prevendo que só começará a recuperar em Novembro do impacto da pandemia.
“Só a partir de Novembro a indústria portuguesa de componentes para o automóvel começará a recuperar, sem contudo chegar aos números de 2019”, antecipa a Associação de Fabricantes para a Indústria Automóvel (AFIA), apontando para uma descida de 30% no volume de negócios na totalidade do ano 2020, para 8,5 mil milhões de euros, contra os 12 mil milhões de euros do ano anterior.
No que se refere à produção automóvel em Portugal, caiu 46,1% em Março face a igual mês de 2019, com a Associação Automóvel de Portugal (ACAP) a explicar que as “importantes roturas nas cadeias de aprovisionamento, nos canais de distribuição, na disponibilidade de mão-de-obra e na continuidade da actividade dos fornecedores” levaram ao “progressivo e inevitável encerramento das unidades de produção automóvel a operar em Portugal a partir do final de Março”.
// TRANSPORTES & NEGÓCIOS com Lusa